Entre os dias 25 e 29 de janeiro ocorreu o 50º
Festival Internacional de Bande Dessinée de Angoulême (FIBD), na França, que
reúne anualmente milhares de pessoas, entre fãs, autores, editores e
jornalistas. Angoulême é uma cidade medieval, com uma população de cerca de 42
mil habitantes, conhecida como capital dos quadrinhos.
O evento deste ano comemora os 50 anos do festival.
Para isso foi criada uma exposição composta por ilustrações de 50 autores, de
todas as partes do mundo, 50 ans, 50 regards (50 anos, cinquenta
olhares). O Brasil estava representado na exposição por uma obra de Marcelo
Quintanilha, autor premiado pelo festival em 2022.
Homenagens foram feitas a autores e autoras premidas pelo festival nas ruas da cidade.
As obras evocam memórias, fazem homenagens e até
críticas ao festival, como foi o caso da HQ de Trina Robbins, contanto como foi
rejeitada por Angoulême, na década de 1990. Elas também permitem perceber a
importância e abrangência do evento, uma vez que temos expostos quadrinhos de
autores e autoras e todas as partes do mundo, reforçando o caráter cada
vez mais internacionalizado do FIBD.
Ilustração de Marcello Quintanilha para a exposição 50 anos, 50 olhares.
Além dessa exposição ocorreram muitas outras, grandes e pequenas, em espaços oficiais, para os quais era necessário comprar a entrada, e em outros, abertos ao público. Cada uma dessas exposições valeria uma postagem especial, só para ela. Mas talvez seja mais apropriado aqui oferecer uma visão mais geral do FIBD, para aqueles e aquelas que ainda não tiveram a experiência de participar.
O Festival de Angoulême tem uma característica que não encontramos em outros eventos famosos dos quadrinhos. Ele envolve todo a comunidade da cidade e mesmo cidades próximas. Eu fiquei hospedada, por exemplo, em Cognac, que fica há 45 min de Angoulême. Mesmo lá, via-se a todo canto referências ao festival e aos quadrinhos. Quanto ao espaço usado para expor a nona arte em Angoulême, não havia exatamente um critério. Igrejas medievais, museus, memoriais, pequenas galerias, vitrine de lojas e até mesmo máquinas de bebidas e petiscos, os quadrinhos estavam lá.
Angoulême, 28 de janeiro de 2023.
A própria população é extremamente acolhedora. No
meu primeiro dia na cidade eu conversei com moradores locais que, ao perceberem
que eu era estrangeira, se colocaram literalmente à minha disposição durante o
tempo que eu permanecesse em Angoulême. Foram calorosos e receptivos, muito
diferente do estereotipo frio e sisudo que geralmente nos passam dos europeus,
particularmente dos franceses.
É muito interessante observar esse acolhimento que autores, editores e demais profissionais envolvidos com quadrinhos recebem. E não apenas da comunidade. Dos grandes autores aos inciantes, há espaço para todos. Valoriza-se desde os jovens talentos das escolas públicas aos aspirantes a quadrinistas. As oportunidade estão presentes nas rodadas de negócios entre editoras de todas das partes do mundo, inclusive do Brasil.
E falando no Brasil, marcamos presença em uma mesa composta por autores, editores e outros profissionais dos quadrinhos, na qual a cena das HQs no Brasil foi apresentada, assim como as possibilidades de internacionalização da nossa produção foi lançada. Há um movimento crescente de valorização do quadrinhos nacional que vem ganhando espaço e buscando políticas públicas de incentivo.
Onde há espaço para todos há a possibilidade de crescimento. Acredito que o Festival de Angouleme represente justamente isso e acredito que, no Brasil, estamos caminhando nesse sentido, também. No caso da pesquisa, a ASPAS é prova de que podemos trazer para as universidades e as escolas os quadrinhos como um instrumento de conhecimento e podemos dialogar sem barreiras com autores e editores. No tange à produção de quadrinhos, ela nunca esteve tão engajada, aberta a todos os temas e acolhendo a todas as tribos.
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