CINCO HQs
ALEGORIA #6, DE DIVERSOS AUTORES
A primeira edição do novo formato de Alegoria traz histórias da Era de Ouro e da Era de Prata dos quadrinhos estadunidenses. Esta, em particular, tem temática de super-heróis. A proposta da revista Alegoria (que até o número 5 era um fanzine) é a de resgatar (mesmo) histórias de um período mais longínquo da produção de história em quadrinhos, os anos 1940 e 150, tramas que já caíram em domínio público. A seleção e curadoria é de Wilson Costa de Souza, que pinça histórias muito boas de acordo com a temática de cada edição. Na edição seis, grandes nomes como Jack Kirby, Steve Ditko, Dick Ayers produzem histórias fascinantes, como a primeira aparição do Ghost Rider, que teria variantes mais famosas com o passar dos anos. Kamandi e Cadmus tem suas sementes apresentas nesta edição, por Jack Kirby. Outras tramas intrigantes de super-heróis, com aventura, fantasia e ficção científica são apresentadas nesta ótima edição. O único porém, são as letras dos balões e dos editoriais, que ficam aquém das belas capas.
NICK RAIDER ESPECIAL, VOL 1: QUE FIM LEVOU MARY ROSE?, DE CLAUDIO NIZZI E FEDERICO ANTONORI
Esta edição marca uma nova coleção - inédita - do detetive Nick Raider no Brasil. É a sua série de especiais, edições mais polpudas, com histórias completas. Nesta edição temos uma história infernal. Isso porque a trama lida com um seita satânica. Nick Raider e sua divisão policial precisam lidar com um homicídio ocorrido há nove meses e uma moça desaparecida que, supostamente, estaria grávida do homem assassinado. Os diálogos são muito bem construídos e as relações que os personagens estabelecem entre si nos levam a supor coisas e depois entrar em plots twists bastante interessantes e divertidos de acompanhar. O nome Mary Rose, como talvez alguns possam suspeitar, devido ao tema demoníaco, é uma homenagem ao filme O Bebê de Rosemary. Os desenhos são muito bons e, apesar desta história em quadrinhos ter sido publicada originalmente na Itália em 1989, não tem aquela carga datada que muitos quadrinhos de faroeste da Bonelli penam em ter. Assim que foi uma ótima leitura Bonelli, daquelas que nos fazem querer voltar mais e mais vezes nos personagens e nas publicações da editora.
NA SALA DOS ESPELHOS, DE LIV STRÖMQUIST
Os quadrinho em estilo "documentário/acadêmico" produzidos por gente como Liv Strömquist e Box Brown têm me conquistado muito nos últimos tempos. São quadrinhos que não contém desenhos muito rebuscados ou extremamente detalhados, às vezes os quadros têm mais texto do que as ilustrações em si. Mas eles contém uma ironia que nos faz sorrir e até gargalhar sobre o assunto tematizado por esses autores e autoras. Na Sala dos Espelhos trata sobre nossa incessante busca pela beleza, como algo subjetivo e que, provavelmente, nunca alcançaremos. Liv se utiliza de diferentes teóricos, notícias e fatos históricos para contar como somos dependentes desse inalcançável conceito de beleza. Esse também é o primeiro álbum de Liv Strömquist que sai colorido no Brasil. Talvez as cores não fossem tão necessárias em determinadas partes do álbum, mas levando em conta que ele fala de opulência, ostentação e diversidade de opiniões, as cores muitas vezes amarram bem o tema proposto. Mais um ótimo livro de Liv Strömquist e que venham muitos mais!
O EFEITO HE-MAN, DE BOX BROWN
Talvez O Efeito He-Man seja o melhor quadrinho de Box Brown que tenha lido até então. Claro, muito tem a ver com o fato de que ele lida com um fenômeno que perpassou a minha infância: as empresas investindo forte, num capitalismo tubarônico, para atrair a atenção das crianças para um produto conjugado entre brinquedos, desenhos animados e histórias em quadrinhos. Para explicar tudo isso, Box Brown vai longe, desde estudos psicológicos sobre comportamento de dependência, a estudos sobre a nostalgia e a história mundial a partir da Segunda Guerra Mundial, bem como a origem da publicidade e do merchandising. Tudo isso para evidenciar como as empresas nos manipulam e nos tornam dependentes de seus produtos, sem se importar com escrúpulos ou com as consequências de um consumo desproporcional. Brown também demonstra como essas empresas se viraram quando legislações mais humanas começaram a apertar o cerco contra elas, como as sindicalizações e os direitos de copyright. O Efeito He-Man não é só um ótimo quadrinho, mas uma leitura necessária para toda essa geração que foi manipulada durante sua infância.
A BELA CASA DO LAGO, VOL. 1, DE JAMES TYNION IV, ALVARO MARTINEZ BUENO E JORDIE BELLAIRE
Fazia tempo que não ficava tão vidrado em um quadrinho como com A Bela Casa do Lago. Já sabia que James Tynion IV era um escritor talentoso devido ao seu trabalho na DC Comics, e que era superior ao de outros roteiristas da editora. Aqui, sem tantas amarras editoriais, ele traz uma trama de terror envolvente, densa e que mistura também elementos de um suspense de Agatha Christie e de um terror cósmico de H. P. Lovecraft. Além disso, lida com temas como amizade e confiança, a iminência do fim do mundo, segredos e conspirações, com personagens bem construídos e diálogos que servem para o que devem servir, revelá-los. Não conhecia a arte de Álvaro Martínez Bueno e curti imensamente cada página, cada conceito visual que ele criou para essa história em quadrinhos e que não foram poucos. Fiquei muito envolvido com a narrativa e só larguei o encadernado quando realmente acabou o material que tinha em mãos (que é a primeira parte). Mal posso esperar para que Panini Comics Brasil traga a segunda parte desta série para eu me deleitar lendo mais uma vez.
UNS LIVROS
DE BANCA EM BANCA: PERCURSOS ENTRE CATÁSTROFES COTIDIANAS, DE DANIEL MACEDO, FRANCIELLE DE SOUZA, LETTÍCIA GABRIELLA, THIAGO PIMENTEL
De Banca em Banca: Percursos Entre Catástrofes Cotidianas traz o esforço de diversos pesquisadores em definir como as bancas se encaixam nas dinâmicas das cidades em que se encontram e como elas performam o que chamaram de "catástrofes cotidianas", já que esse tipo de instalação comercial vem perdendo espaço e se reconfigurando nas cidades. Embora os autores tracem uma ótima análise sobre essa dimensão urbana das bancas de revistas, eu senti falta de muitos outros aspectos relacionados a esses estabelecimentos, como por exemplo, a composição de produtos impressos nas bancas atualmente, e que sempre estiveram mudando. Como grande frequentador de bancas ao longo da vida, senti a falta de entrevistas com o público, entender que produtos são mais comercializados, falar que o jornal mais vendido hoje nas bancas são os fardos para uso de pets. Também senti a falta de mencionar a ascensão das mídias impressas perenes frente as mídias de circulação periódica. Enfim, um livro que poderia ter dado uma atenção maior a outras dinâmicas das bancas, mas nem por isso deixa de ser um bom livro.
A FIGURA DO MONSTRO CLÁSSICO NA CULTURA POP, DE LIZ GLOYN
O que é que torna os monstros clássicos tão cativantes? Por que eles continuam tendo relevância no mundo contemporâneo? Neste livro, o primeiro estudo aprofundado sobre as maneiras como as sociedades pós-clássicas se apropriam das criaturas do mito antigo, Liz Gloyn revela as tendências de uso das figuras monstruosas desde a década de 1950 até a atualidade, e reflete sobre as razões pelas quais esses monstros permaneceram tão arraigados em nosso imaginário cultural. A autora apresenta um novo modelo de interpretação da vitalidade extraordinária que os monstros clássicos têm apresentado, traduzida em sua adaptabilidade — eles encontram locais para residirem dentro da cultura popular sem prejudicar sua conexão com o mundo antigo. O debate trazido por Liz leva os leitores a atravessarem um panorama abrangente dos modos como os monstros são apresentados no cinema e na TV, desde as adoradas criações de Ray Harryhausen em Fúria de Titãs até os "monstros da semana" em Hércules: A Lendária Jornada, e a olharem detalhadamente para as vidas e pós-vidas da Medusa e do Minotauro. Passando por sereias e centauros, todos os amantes de monstros encontrarão motivos para amar este livro estimulante e acessível.
Obrigado pela sua leitura e até o próximo mês!
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