A ASPIANA TRINA ROBBINS NOS DEIXOU

A ASPIANA TRINA ROBBINS NOS DEIXOU

Trina Robbins, São Paulo, 2015.

A quadrinista Trina Robbins nos deixou no dia 10 de abril de 2024. Nascida em 1938, ela viveu sua infância e juventude em plena “Era de Ouro dos Quadrinhos”. ´Na década de 1950 atuava junto à “science fiction fandom”. Foi uma das primeiras mulheres a integrar e influenciar o movimento dos quadrinhos underground. Com uma carreira com mais de meio século, trabalhou em muitas editoras e suas ilustrações chegaram a ser exibidas em uma galeria de arte, em 2011.

Ficou conhecida por sua participação em histórias de personagens famosas como Vampirella (1969), publicada pela Warren Publishing, da qual foi coautora. Trina desenhou sua roupa e deu a ela parte de suas características físicas, como o cabelo, por exemplo. Outra personagem que passou por suas mãos foi a Mulher Maravilha (1986). Dessa personagem destaca sua participação como desenhista em The Legend of Wonder Woman, escrito por Kurt Busiek, série que prestou homenagem às raízes da Era de Ouro do personagem. No final de 1990, Robbins colaborou ainda com Colleen Doran na graphic novel Wonder Woman: The Once and Future Story, sobre o tema da violência conjugal.

Em sua trajetória profissional, Trina Robbins trafegou por todos os ambientes artísticos, desde jornais feministas clandestinos nos anos de 1970 até editoras de renome, como a DC Comics e a Marvel Comics. A biografia dessa autora é extensa e seu trabalho foi reconhecido com prêmios e menções honrosas que preencheriam várias páginas.

Como cartunista e feminista, ajudou a promover a venda de quadrinhos feitos por mulheres. Robbins foi uma co-fundadora da Friends of Lulu, uma organização sem fins lucrativos, formada em 1994, para promover a leitura de histórias em quadrinhos feitas por mulheres e a participação das mulheres na indústria dos quadrinhos. Sua produção caracteriza-se pelo engajamento social e político.  Trina nunca teve receio de colocar em público suas opiniões. Chegou a criticar abertamente o machismo e a misoginia de cartunistas consagrados, como Robert Crumbe e Mike Deodato. Em 1993 lançou um livro que pode ser considerado um clássico, A Century of Women Cartoonists.

Mas o que queremos aqui é destacar a importância da obra de não-ficção de Trina Robbins para a História das Mulheres nos quadrinhos. A cartunista tem se dedicado há mais de três décadas a pesquisar a história das mulheres que produziram quadrinhos nos Estados Unidos. Não é apenas um levantamento biográfico, mas uma pesquisa ampla que envolve o resgate de produções da “Era de Ouro” já há muito tempo esquecidas.

Como historiadora dos quadrinhos, Trina Robbins pode ser classificada como uma pioneira na História das Mulheres nos Estados Unidos. No ano de 2015 ela esteve no Brasil pela primeira vez, a convite das Jornadas Internacionais de Quadrinhos da USP. Na época ela também participou de um encontro entre quadrinistas, realizado na Gibiteca Henfil, em parceria com a ASPAS. Na época, Trina Robbins tornou-se membro horária da ASPAS e, posteriormente teve um artigo publicados no livro Gênero, Sexualidade & Feminismo nos Quadrinhos, e Sexo & Gênero nos quadrinhos, ambos de 2020.

Seu legado está presente não apenas nos quadrinhos que produziu mas, também,  nas pesquisas sobre mulheres nos quadrinhos realizadas não apenas nos Estados Unidos mas também no Brasil e em diversos outros países.

* Texto adaptado.